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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Dia de alegria?

Por Gustavo Saldanha*


Não vi o jogo do Cruzeiro. Mais do que isso: senti. A audição é mais precária em seus sentimentos viris. Acompanhando o drama pelo rádio - apesar da emissora, vulgo Itatiaia, ser atleticana de ofício e causa -, comecei a me inquietar a partir dos trinta minutos do primeiro tempo. Vou te confessar: não vi no Cruzeiro - em seu elenco - uma certeza de que tudo estava ganho, apesar de ser difícil, uma vez me colocando no lugar de um atleta, não acreditar que o mais complicado já havia sido realizado, ou seja, "não perdemos na Argentina, agora depende de nossa qualidade, e só dela". Mas o que ouvi e senti? Ouvi e senti mais uma clássica final de libertadores. E só. Faço um pequeno retorno ao passado, na década de 1930. Nesta década foram organizadas as primeiras copas do mundo. Ali tivemos o primeiro triunfo do Uruguai e depois os dois triunfos da Itália. Foi exatamente neste período que nasceu o mito de que era praticamente impossível ganhar uma copa fora do seu continente. Quando dizemos: o Cruzeiro, em casa, com sua torcida, ganhará, parece um exagero - pensar que apenas pela presença do torcedor o título está ganho. Mas na história das Copas, mais do que jogar em seu estádio, jogar em seu continente é sinônimo de título. Apenas o Brasil - nas Copas de 1958 e 2002 - quebrou este mito que, logo, continua com sua sombra. Pois bem: vários times europeus não vieram em algumas copas disputadas na América do Sul por uma questão: na hora das decisões, faltava futebol, sobrava garra, malandragem e, muitas das vezes, covardia. Não foi senão com estes elementos que o Brasil criticou, até os anos 1990, a Libertadores da América. A partir desta década citada, começamos a ganhar efetivamente o principal campeonato de clubes do continente com mais assiduidade. Justo nos anos 1990, quando nossos bons jogadores, em sua maioria, estavam na Europa. Os maiores selecionados formados por equipes brasileiras estão inseridos nos anos anteriores. Por exemplo, para ficar em apenas um elenco incrível - o maior -, podemos citar o Santos. Como entender que o inacreditável Santos só ganhou duas, e apenas duas, Libertadores. Quais foram as "seleções" que bateram o Santos? E o Palmeiras de Ademir da Guia? E o Inter de Falcão? Enfim, não havia seleções, havia elencos adversários que, na gíria boleira, chamaríamos ora de "chatos", ora de "maldosos". Lugano, eis zagueiro do Nacional do Uruguai e do São Paulo, certa vez contou para seu grande amigo, Rogério Ceni, histórias narradas pelos boleiros uruguaios sobre como eram os jogos entre os uruguaios e os platinos nos primeiros anos de disputa do campeonato. Era uma verdadeira luta corporal, em que sobrava covardia, faltava futebol. Mas o que ouvi e senti? Ouvi e senti mais uma clássica final de libertadores. E só. Não houve futebol. Houve a gana, a fome, a sede de um time que sabia ser inferior, contra um Cruzeiro de talentosos jogadores, ainda que não craques.
O craque da Libertadores, Verón, o que fez em sua primeira bola no jogo do Mineirão? Deu um drible humilhante, deu um chapéu no adversário, furou as canetas alheias, executou um lançamento gersoniano? Não. A primeira jogada do craque da Libertadores, a quem Adilson, o técnico do bi-campeão da Libertadores, na entrevista coletiva, minutos após o apito final definir a vitoria dos velhos "estudantes" de La Plata, fez a brilhante e rara menção em que revelava o prazer de homem de poder assistir em campo um craque da maestria de Verón, não foi nenhuma das citadas jogadas. Verón, após o apito do juiz, esperou o atleta Ramires, do Cruzeiro, pegar a bola, para acertá-lo, em cheio, como revide por uma cotovelada, em meu olhar involuntária, recebida pelo mesmo jogador na partida inicial. No ano que passou, assistimos ao goleiro da equipe do Equador, a Liga Desportiva Universitária, fazer do juiz, do tricolor fluminense e de toda a história do futebol uma piada desonesta. Do primeiro minuto até os pênaltis, praticou a ação que só ao léxico do futebol tem sentido: catimbar. Em um mero juízo de valor, acredito que o Cruzeiro de Ramires era muito mais merecedor que o Fluminense de Tiago Neves para conquistar a Libertadores. Mas ambos esbarraram na ausência de futebol. Luís Felipe Scolari, dos técnicos a quem mais respeito, fez história na Libertadores, conquistando o campeonato com Grêmio e Palmeiras. Qual era uma de suas marcas na disputa dos jogos decisivos: chutar uma segunda, ou até uma terceira bola para o gramado, ao final dos jogos em que seus times estavam ganhando, para retardar a partida. Enfim: fez isto, ganhou e virou técnico de seleção brasileira, campeão do mundo. A catimba faz parte, mas não pode ser tomada como O futebol. Não, não assumo que isto seja a regra deste campeonato. Não... existiram, sim, grandes jogos de final na Taça Libertadores. Mas insisto em dizer que a maior parte daqueles que assisti, assim o foram. Dia de alegria? Para o futebol, não. Para os argentinos, sim. Dia de alegria? Sim. Para a conmebol, que continua aplaudindo, após mais de 40 anos de futebol, a ausência do próprio futebol nos campeonatos por ela organizados. Para aqueles que gostam de futebol, não. A audição, mais precária em seus sentimentos viris, me fazia pensar em atletas como Ramires e Wagner em campo, pouco combativos, mas destacados pela qualidade com a bola nos pés, diante de atletas que pareciam ser força e só força. Para onde avançar? Isto é uma final de Libertadores. É preciso mais do que futebol. É preciso, inclusive, em boa parte dos noventa minutos, esquecer que existe futebol. Eis o lema dos grandes campeões argentinos e uruguaios da Taça Libertadores da América.
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*Gustavo Saldanha é atleticano, divinopolitano, ex-jogador de futebol (ai Queijim) e profundo entendedor dos mistérios deste esporte!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Dia de tristeza

Emmanuel Pinheiro/EM/D.APress

Em futebol ninguém é campeão na véspera, já dizia o grande filósofo do ludopédio Nenê Beiçola. Mas parece que tem gente que acha que já ganhou antes de entrar em campo. O que eu vi nesta última semana em Belo Horizonte foi um bando de gente cantando vitória antes da hora. Os torcedores do Cruzeiro fomos arrogantes, achando que o time já era campeão da Libertadores. Deu no que deu. Até falei sobre isso com alguns amigos: quem entra com confiança demais, perde! Os jogadores disseram que estavam concentrados, que não foram contaminados pelo sentimento da torcida, mas o que vimos em campo foi uma equipe displicente; e até nervosa quando se deu conta da dificuldade do jogo. E o Estudiantes fez sua parte, jogou certo, catimbou, teve calma quando tomou o gol, tocou a bola, em suma, jogou como se estivesse em casa.

Relembrei alguns reveses de favoritos que cairam diante de equipes supostamente mais fracas. A lição mais recente foi a do Fluminense, que perdeu o título em casa ano passado. O filme se repetiu esse ano com o Cruzeiro. A história mais emblemática de comemoração de título antes da hora, talvez seja a do Brasil de 1950. Precisava de um empate para ser campeão e perdeu para o Uruguai. Dizem que houve até uma festa de comemoração na noite anterior. O Cruzeiro já esteve do outro lado, na final da Copa do Brasil de 1996 contra o Palmeiras. O jogo no Mineirão terminou empatado e teve torcedor palmeirense dizendo que era só ganhar a Libertadores para jogar o Mundial em Tóquio. Pois no Parque Antártica, o Cruzeiro ganhou o jogo por causa do salto alto dos jogadores do Palmeiras, que era um timaço: Djalminha, Rivaldo, Luizão, Junior, Cafu, comandados por Wanderley Luxemburgo. O Atlético também já passou por isso. Na Conmebol de 1995, o time ganhou em casa do Rosário Central pelo placar de quatro a zero, e perdeu na Argentina pelo mesmo placar. O Rosário foi campeão.

Ontem fiquei com muita raiva da displicência dos jogadores e a leniência da torcida. Como pode um estádio cheio calar-se porque o time joga mal. Depois, quando os atleticanos dizem que a torcida do Cruzeiro é fraca, parada, pouco apaixonada, tem gente que briga por causa disso. Mas é verdade! Torcida não ganha jogo, eu sei. Mas ajuda a acordar um time sonolento como foi o Cruzeiro ontem. E os argentinos souberam tirar proveito disso.

Acho que o time do Cruzeiro precisa ser reformulado para a próxima temporada: o Adilson e alguns jogadores devem sair. Depois do fim do brasileiro obviamente. Dos que jogaram ontem, poucos jogadores devem ficar: Fábio, Leonardo Silva, Marquinhos Paraná e Kleber. Os outros, inclusive o Vagner, devem ser negociados e liberados. Especialmente o Gerson Magrão, o Henrique, o Jonathan e o Wellington Paulista.

Estou triste. Não sou fanático por futebol, mas acompanhei esse momento do Cruzeiro com dor no coração. Senti esse clima ruim deste a partida anterior, uma sensação de que algo ia dar errado. E deu! Não tem nada de misticismo aqui. Apenas senti uma euforia da parte dos cruzeirenses, que em futebol pode ser perigosa.

Por fim, alguém tinha que estar alegre com essa situação. Os atleticanos comemoraram como se a vitória fosse do Atlético. Mais do que as últimas conquistas do clube: o mineiro e a série B de 1997. Faz parte do futebol: eu faria o mesmo se a situação fosse inversa. Agora é engolir esse sapo do tamanho de um dinossauro.

Para quem quer saber mais sobre futebol um link interessante: http://futpedia.globo.com/

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ao meu amigo Toninho!

Lá de onde eu venho, São João do Oriente (MG), as pessoas costumam dizer que o fim do mundo está próximo, pois é tanta violência, tanta safadeza, tanta coisa ruim, que isso só pode ser prenúncio do fim do mundo. Vez que outra me espanto com essas coisas. O mundo não ficou mais violento, - ou ficou? - nós é que sabemos mais desta violência. Mas na cabeça daquela gente lá do Oriente, o mundo endoidou! As estatísticas estão aí, o Jornal Nacional dá manchete todo dia, tem até jornal especializado em noticiar só assassinato, estupro, roubo, estelionato, corrupção, etc, etc. Quando a coisa acontece nas regiões mais ricas das cidades, o destaque aumenta. Se é lá na periferia, fala-se menos! Meu amigo Toninho morreu no meio da rua e não atrapalhou o tráfego! Procurei nas manchetes da Folha, do Estadão, nos portais de notícia, nos blogs de esquerda, de direita, de centro, naqueles "meio intelectual meio de esquerda", e nada! Nem uma linha sobre sua morte!

Toninho nasceu e cresceu no Oriente. Mas como quase todo brasileiro pobre do interior migrou para a cidade - no seu caso São Paulo - ainda adolescente. Foi na esteira dos irmãos mais velhos, que estavam trabalhando por lá e tendo sucesso em seus empreendimentos. Foi, viu e venceu! Casou, enricou, teve filhos, separou, teve netos, mudou e casou de novo. Depois de mais vinte anos em São Paulo, voltou para Minas Gerais em 2000, em busca da tranquilidade das cidades do interior. E assim foi! Continuou trabalhando, vivendo. Era um sujeito boa praça.

Em 2008 voltou à São Paulo para ajudar a irmã que enviuvara recentemente. Viuva e com um filho recém-nascido. Depois de passar o domingo brincando com o neto, Toninho foi levar a filha em casa e não voltou. Foi assassinado no caminho entre o Jardim Rosana e o Parque Regina na periferia de São Paulo. Um assalto e o ladrão, não satisfeito com o celular, a carteira e o carro, atirou! Na mídia nem uma nota sobre sua morte. Sobre todas as mortes que acontecem em lugares como aquele!

Restou a nós, seus amigos, o gosto amargo da derrota e da impotência diante desta situação. Nessas horas me pergunto se não é verdade aquela crença dos Orientenses lá! Mais um sujeito jovem - 42 anos - que se vai. E nós que ficamos nos recolhemos mais. Até quando?