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domingo, 16 de agosto de 2009

Vamos subir Coelhôôôôôô!

"América és o maior,
teu futebol é sensacional.
Cantamos para o mundo inteiro,
tu és a gloria do esporte nacional."

Belo Horizonte ficou verde e branca. O Coelho está com o pé no caminho de volta para a elite do futebol nacional. Um passo muito importante já foi dado. Hoje fiquei surpreso, pois vou ao Independência há dois anos e nunca tinha visto o estádio tão cheio. Todos os lugares tomados, quase dez mil pagantes. E o que se viu em campo foi um time concentrado que sabe o que quer. A torcida veio e o time proporcionou um espetáculo à altura. Foi bonita a explosão no fim do jogo, dez mil americanos comemorando. Quer dizer: muitos ali não são americanos de fato, são filhos e netos de americanos de verdade, que foram acompanhar o pai, o avô. Ou um torcedor de outro time que vai a todos os jogos do América, como eu. Fato é que todo mundo ficou emocionado. O Mecão está voltando!

O América é um bom time: a defesa marca bem, os alas apoiam bastante, forma até tímidos neste jogo, o meio joga certo e o ataque funciona. E tem um jogador que faz a diferença: Luciano. Neste jogo ele marcou o primeiro gol, sofreu a falta que originou o segundo e foi brigar pela bola lá na linha de fundo, o que fez o zagueiro sair jogando mal e perder a bola para o Bruno Mineiro, que fez um belo gol, com direito a drible da vaca! A torcida agradece o bom futebol. E sai de alma lavada, depois de cinco anos de purgatório na Série C. Que venha a Série B. Ano que vem a torcida vai cantar: "vamos subir Coelho!" Agora para a Série A.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A questão das cotas raciais

Há um tempo atrás estava conversando com uma amiga que trabalhava no projeto de Ações Afirmativas na UFMG e falávamos sobre as cotas raciais. Eu dizia que não tinha como distinguir quem era negro e quem era branco. Falei que poderia pleitear uma vaga através do sistema de cotas pois, apesar de ser branco, tenho ancestrais negros e pardos. Ela disse que, embora as pessoas falem que não se pode fazer esta distinção em um país miscigenado como o nosso, na hora do preconceito o negro é facilmente identificado. Ou como ela disse: "pergunte à polícia, aos comerciantes!"
Essa mesma amiga me convidou para participar de um seminário sobre Ações Afirmativas. Eu disse que iria, mas perguntei se não teria problema, afinal sou branco. Ela me deu um puxão de orelha: "quando estávamos falando sobre cotas, você disse que poderia alegar ser negro. Agora que te convido para um seminário, você diz que é branco. Isso é muito engraçado". Foi como um soco no estômago. E merecido!
A questão das cotas raciais é mais complexa do que imaginamos. O alcance da medida, como forma de combater a exclusão, é questionável. Em que dimensão as cotas solucionam o problema do acesso dos negros e pardos à universidade? E os outros grupos excluídos? A pobreza, mais que a raça, parece ser o principal fator de exclusão educacional. O acesso ao ensino superior depende de uma boa base no ensino fundamental e médio, e as escolas públicas, onde estudam as pessoas mais pobres, são de qualidade inferior às particulares. Muitas críticas feitas ao sistema de cotas, têm como justificativa esse fator. Mas temos também as críticas de quem se coloca contra as cotas, alegando que elas afetam a meritocracia.
O grande problema é que o sistema de cotas vai contra os interesses da elite econômica. Senão vejamos: as cotas são praticadas nas universidades públicas, que são as melhores instituições do país. Nos cursos mais concorridos os alunos são oriundos das classes mais altas, e estudaram em escolas particulares e cursinhos caros. A reserva de vagas afeta especialmente esses alunos. Vem então a questão do mérito. Dizem que as vagas, no sistema atual, são conseguidas pelo mérito de cada aluno, como se não existisse qualquer vantagem com o fato de uma pessoa ter acesso a mais ferramentas para passar nos vestibulares que outras.
Além disso existe a politização do debate, com a grande parte da imprensa e dos partidos políticos de direita posicionando-se contra o sistema. Os grupos contrários às cotas valem-se da ciência para justificar sua posição. Segundo eles, o conceito de raça não é natural, pois existe apenas uma raça: a raça humana. Mas o principal argumento a favor das cotas considera o conceito social de raça, não o natural. É esse conceito social, que gera o comportamento da polícia, dos comerciantes, do sujeito que atravessa a rua para não cruzar com um negro. O conceito social de raça explica a quase ausência de negros no corpo docente das universidades públicas, nos parlamentos estaduais e no Congresso Nacional. É esse mesmo conceito que explica a diferença de salário entre negros e brancos ocupando os mesmos cargos.
Quem é contra o sistema de cotas diz sua implantação vai produzir uma racialização da sociedade brasileira, incitando o racismo que, segundo eles, não existe no país. O Brasil não é um país racista, e nossa legislação criminaliza o racismo. Mas não podemos dizer que ele não existe no país. Já vi manifestações racistas em ambientes que deveriam ser espaço de pluralidade, como escolas, bibliotecas públicas, universidades. São manifestações explícitas, sem qualquer tentativa de ocultação.
Ainda que o sistema de cotas não resolva o problema do acesso à educação superior para boa parte dos brasileiros, é um passo importante a ser dado. Depois de tantos anos de descaso, o debate sobre este tema abre caminhos para ações efetivas e reais, que vão além do mero discurso demagogo. Como disse minha amiga, citada anteriormente: "não vai resolver o problema do racismo e da discriminação, mas vai nos preparar para lutar contra isso no futuro".